Vergonha 2013

Rodrigo L. Dias

Dezembro 2013

Vergonhoso o que ocorreu no jogo Atlético PR x Vasco, válido pela última rodada do Campeonato Brasileiro. Um jogo que não tinha condições nem de começar teve um desenrolar trágico e seguimento irregular. Não devia nem começar pelo fato de não ter segurança efetiva para separar duas torcidas rivais, pois o clube mandante do jogo não cumpriu com a obrigatoriedade de garantir a segurança dos torcedores. O que se viu foram cenas de guerra campal, em que a violência transmitida ao vivo pela TV resultou em 4 torcedores em estado grave, pelo menos 1 em coma. A torcida do Vasco teve que se defender, acuada em seu espaço, em um instinto de sobrevivência fizeram recuar os rubro-negros a um alto custo, deixando torcedores desacordados e ainda assim atingidos em meio a uma cólera pela qual foi tomada as duas torcidas. A tragédia foi precipitada pela torcida mandante do jogo, que foi em direção à torcida vascaína, que estava atrás do gol à direita das cabines de TV. Deslocaram-se cerca de 100 metros em direção aonde se encontravam os vascaínos. Um repórter da Rádio Globo narrou minutos antes: "a torcida do Atlético ta encostando aqui na do Vasco e só tem 8 seguranças que eu contei sendo que todos apenas com cassetete”. A imprensa, em sua maioria, não entrou no mérito de quem começou, e a torcida atleticana nega que iniciou o incidente, mesmo com as fotos mostrando torcedores rubro-negros no espaço destinado à torcida visitante e imagens mostrando torcedores rubro-negros atravessando a corda de separação das torcidas e indo em direção aos vascaínos. Um comentarista da ESPN, no programa de 2ª feira à noite, após ter relatado que nem procurou saber o que aconteceu quando iniciou a briga entre os torcedores e que até trocou de canal para outro jogo quando aquele foi paralisado, irresponsavelmente leu no ar um depoimento de um telespectador que sequer estava presente ao jogo, dizendo que estava claro que a torcida do Vasco foi quem começou a confusão para que se parasse o jogo (sic). É incontestável que quem deu o 1º passo para o conflito dentro do estádio, o “1º tiro de guerra”, foi o lado rubro-negro, que estava em maioria e desencadeou um confronto deprimente. Um repórter da Radio Manchete narrou desesperado: “a torcida do AtléticoPR invadindo o lado dos vascaínos, briga muito feia(...) Invadiu geral, a torcida do Vasco sendo acuada, não há segurança aqui(...) Estamos em risco aqui(...) Vai ter morte”. As torcidas vascaínas Rasta e GDA tiveram suas faixas roubadas e depredadas; seguiram-se cenas de vários torcedores rubro-negros em cima de um vascaíno, e vários vascaínos em cima de um rubro-negro. Vários vascaínos e rubro-negros em grupo, avançando e retrocedendo em bloco, como em uma guerra.

Dentro do campo, Antônio Lopes foi a Decepção para os vascaínos. Até então considerado um grande vascaíno, em poucos minutos tornou-se persona non grata para o Vasco. Quando entrou em campo, bravejando com os árbitros, logo pensei que estivesse em defesa da torcida vascaína, que estava sob risco quanto sua integridade física e moral. Mas não; em pouco tempo ficou claro o que queria: recomeçar de qualquer maneira a partida, mesmo sabendo da falta de segurança do local, das questionáveis garantias de segurança de autoridades e depois das cenas lamentáveis de violência em um estádio sem policiamento, que propiciou o confronto entre as torcidas. Horrorizados descobrimos com o tempo que a maioria das pessoas envolvidas no mundo do futebol são na verdade torcedores do Dinheiro FC. Vascaínos de verdade mesmo, somos nós torcedores de bem. É de extrema raridade e privilégio do Vasco ter nomes na sua história como o de Geovani, Pedrinho, Juninho e outros. Porém cometemos o erro de colocar vários outros no mesmo patamar de ídolo, até ver o comportamento destes em situações em que deveriam bater no peito e retribuir ao Vasco toda a devoção dedicada de sua imensa torcida. E o ex-delegado mostrou quem é em um momento decisivo. Antônio Lopes jogou no lixo anos de respeito e identificação com o Vasco. Se vai continuar fazendo parte do quadro social do Vasco, é uma pena; mas com a torcida vascaína já não tem moral alguma. Que seja expulso de São Januário.

Sem clubismo. Não houve a oportunidade do Vasco jogar para tentar ganhar. Quem assistiu ao jogo percebeu inequivocamente o anticlima para seguir com o jogo. Continuar a partida só confirmou que a violência desmedida, sem motivos coerentes e racionais está banalizada e não causa o impacto e reflexão que deveriam causar em todos. Continuar o jogo foi um aval para que a violência entre torcidas de futebol continue, pois não causou a pena máxima para o torcedor: o fim do espetáculo. Se não há comportamento adequado e não há segurança desde o início, que se encerre o evento esportivo e marque outro em condições melhores, em que os itens indispensáveis para a realização de uma partida sejam observados e garantidos. Mas o que temos é um campeonato sem validade, sem moral. Que fosse feito outro jogo e o Vasco perdesse, se fosse o caso. (Nota: para aqueles que acreditam que o Vasco tinha time tecnicamente inferior e que não venceria o duelo, a despeito de saber que um jogo decisivo pode ser vencido pela entrega do jogador ao seu time em campo, disposição e motivação do elenco e sorte de um lance favorável). Mas o jogo não tinha condições de seguir. Teria que remarcar e/ou julgar a responsabilidade do AtléticoPR no tribunal esportivo. O árbitro já estava dando sinais de tomar a decisão de encerrar. Pressionaram para continuar. E o Vasco não teve a chance de jogar a última partida dignamente. O Vasco retornou a campo contra a sua vontade, mas cumpriu com o Regulamento da competição (RGC. Art. 63). O jogo estava 1-0 e após ser reiniciado, terminou 5-1. Não pode ser confirmado um jogo nessas condições. O próprio placar revela que o sentimento do jogador vascaíno definitivamente não estava mais no jogo. O jogo não poderia ter seguido em hipótese alguma. Não é possível prever o que ocorreria caso o Vasco virasse o jogo para 2-1. Falar em garantias para prosseguir com a partida àquela altura já não valia de nada. Fora do estádio ainda havia notícias de confrontos, antes e após as brigas nas arquibancadas. O que ocorreu naquelas arquibancadas foi extremamente subestimado, minimizado. Como se fosse um acontecimento normal que, após abafado, estaria tudo certo. Só que um helicóptero desceu ao campo para retirar um torcedor inconsciente; e não se sabia ao certo se estava com vida ou o quanto ainda o restava. Centenas de vascaínos foram embora do estádio aos 16 min. de jogo por falta de segurança. Tudo isso exposto corrobora para que se cumpra o Regulamento Geral das Competições para um jogo que foi paralisado por mais de 70 min. e com falta de segurança desde o início; o que inviabiliza a realização daquela partida, com a devida punição ao AtléticoPR, clube mandante, com a perda de pontos e placar de 3-0 ao Vasco (RGC. Art. 19; Art.20; Art.9/nº9). Entendido isso, conclui-se que o Vasco não teve os 38 jogos a que tem direito; faltou 1. Se tiver que disputar o Acesso, será por rasgo de artigos da legislação esportiva. E como sempre, a interpretação dos fatos será pouco favorável ao Vasco, que já tem no seu histórico decisões tendenciosas contra si, fato que já vem desde a década de 20. As punições serão apenas multas e perdas de mando de campo aos times. A violência entre as torcidas continuará crescendo; e os responsáveis pelas próximas guerras que veremos serão a CBF e o STJD, em que um não tem competência para organizar campeonatos e o outro para julgar coerentemente e punir de fato e com rigor a quem deve. Seguir a risca o Regulamento quando lhe convém (salvar o Fluminense e rebaixar a Portuguesa), e interpretar o Regulamento quando for no caso de prejudicar o Vasco (a saber: 1) não julgar o pedido do Vasco de impugnação, mantendo o Flamengo fora do Z4 caso perca pontos igualmente a Portuguesa; 2) Punição ao Vasco devido os acontecimentos; 3) Não punição ao árbitro do jogo e; 4) Manter o resultado do jogo, mesmo que comprovadamente tenha ocorrido sem as condições previstas por código desportivo). A história se repete, e o lema “Contra tudo e contra todos” muito falado em 1923 e 2000, para citar dois exemplos mais notórios, continua vivo, atual e símbolo do time mais importante desse país.

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