Vasco, um club popular

O Vasco nasceu em 1898 no bairro na região da Saúde, no Centro do Rio de Janeiro, mudando pouco tempo depois para uma sede na Rua Santa Luzia, também no Centro. Ambas as áreas desvalorizadas à época. Foi fundado por brasileiros e portugueses, em sua maioria pobres e de classe média baixa, que queriam ter o direito de remar junto as grandes agremiações nas proximidades da enseada de botafogo, já que para praticarem o esporte tinham que se deslocar até Niterói. Recebeu o nome do navegador português por ocasião dos 400 anos da descoberta do caminho marítimo às Índias. Seu pavilhão continha uma caravela com a cruz de cristo. Seus primeiros remadores vestiam uma camiseta preta com uma faixa branca em diagonal e a cruz de cristo ao centro. Desde o início foi um clube aberto àqueles que desejavam praticar o remo. Consequentemente seu quadro social era composto de gente de todo o tipo, em geral comerciantes e profissionais liberais. Seus remadores provenientes de famílias humildes, muitas vezes negros ou mulatos, causavam estranheza e repúdio na nobreza que assistia às provas na enseada de Botafogo. Desde o princípio esse espírito libertário causou grande descontentamento junto à elite dominante, geralmente sócia das agremiações da Zona Sul da cidade. Desde já não era um clube bem visto por aqueles que detinham o poder. Os sócios do CR Vasco da Gama elegeram, em 1904, Cândido José de Araújo, para a presidência do clube. Nada de anormal não fosse Cândido, negro e de origem humilde. Enquanto as agremiações da Zona Sul exigiam procedência nobre e pele clara para adentrar o quadro social do clube, o Vasco elegia para o seu quadro máximo um legítimo representante do povo (que seria reeleito). Daí nasceu a gloriosa história do remo cruzmaltino, até hoje o maior vencedor de campeonatos estaduais do RJ e campeonatos brasileiros de regatas. Mais famosa é a história do futebol, iniciado em 1916. O clube foi galgando as divisões de acesso até que chegou à principal em 1922, sendo campeão com seus negros e mulatos no time. O clube foi excluído da Associação Metropolitana, comandada pelos 3 grandes da Zona Sul mais o América sob a alegação de que seus jogadores seriam profissionais e que o Vasco não tinha estádio. Tudo para mascarar o preconceito. Em tempo: sem caixa para retribuir os atletas, o Vasco, recompensava pelo esforço dedicado, dando bichos para a alimentação dos jogadores, e assim, determinada meta atingida valia uma galinha, um porco, uma vaca… Estava criada a figura do bicho no futebol. O cenário para a mais famosa e gloriosa história do esporte brasileiro estava montado: informado pelos representantes da Associação Metropolitana de que para continuar no campeonato o Vasco deveria se desfazer de alguns de seus jogadores (todos os negros e mulatos) o então presidente do clube respondeu com a famosa recusa conhecida como a “Resposta histórica”, onde reafirmando seus valores, o clube se negava a virar as costas para aqueles que vingaram o seu pavilhão. O Vasco é do povo, do pobre, da Zona Norte. Jogamos a liga independente com outros clubes da Zona Norte e fomos campeões novamente. Em 1924 nos aceitaram de volta, a contragosto de alguns, pois o clube havia arrendado um campinho na Tijuca para mandar seus jogos. A essa altura o clube era muito popular em todo o subúrbio, conquistando também o coração de alguns membros da elite mais voltados para os direitos do homem e ideais libertários. Em 1927, a torcida pobre, mas valente, arrendou sozinha, sem um centavo de dinheiro público um grande terreno no degradado bairro de São Cristóvão, e ali ergueu o maior estádio da América do Sul até então. Dizem, que uma eleição foi promovida por uma famosa marca de água mineral, em fins dos anos 20 e início dos anos 30, para declarar o time mais querido do Brasil. A enquete mexeu com a capital da república. Os torcedores deveriam depositar o rótulo da garrafa com o nome do time do coração em uma urna no prédio do Jornal do Brasil, no Centro da cidade. Sabendo que na região do centro a popularidade do Vasco era absurda, sendo ali uma região de baixa renda, reza a lenda que sócios do CR do Flamengo funcionários do JB destruíram grande parte dos rótulos que chegavam com o nome do Vasco. O resultado deu no que deu e surgiu ali o grande slogan deles… Ganharam até taça. A farsa do mais querido do Brasil. É triste que a história confirmou a manipulação. O vascaíno tem com o flamenguista a rivalidade histórica. Ele não quer ser mais que o flamenguista, de jeito algum, só quer fazer valer o seu lugar na história. Meu clube tem nome e sobrenome. Sabe de onde veio e para quem veio. Nunca foi querido por elite alguma, logo nunca foi querido por nenhuma mídia, mas mesmo assim é o que é. Construir mitos é muito fácil, já histórias verdadeiras é mais difícil. O Vasco é o time popular e o Flamengo é o time populista. Digam o que quiserem, mas digam a verdade. Será que a “nação rubro-negra” conhece a sua raiz?

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