Paixão Vascaína

Fernando César Corrêa d'Arribada 

Saudações Vascaínas a todos, em especial àqueles que como eu não se cansam de declamar aos quatro cantos do mundo a sua paixão. Paixão arrebatadora que não sabemos explicar bem como começa. No meu caso, lembro-me bem, ouvia o meu pai falar sobre as conquistas do "Expresso da Vitória" e das lutas do Vasco para derrubar o preconceito racial e social no futebol e no esporte de uma maneira geral.
 
Mas era ainda muito criança para entender a importância de certos fatos, pois também me parecia que meu pai fazia tais declarações apenas para me transformar em mais um vascaíno, movido pelo seu amor por mim e pela sua paixão pelo Gigante da Colina. As palavras do meu pai não encontravam eco e nem respaldo na imprensa, que só exaltava um certo clube rubro-negro. Mas ele insistia, e os seus olhos brilhavam, me passando uma verdade e uma credibilidade incontestáveis. Ah! Meu velho pai, que saudade! Não precisava tanto, é muito fácil torcer pelo Vasco. E não precisava tanto, porque eu já começava a idolatrar um certo cabeludo que havia marcado um golaço no Maracanã, contra o Botafogo. Mas ele insistia: "Vamos comprar uma camisa do Vasco pra você, pois domingo vamos ao Maracanã". E fomos.

Ao chegar às arquibancadas do Maraca, em 24/04/77, eu, então com 9 anos, fui tomado por uma emoção inefável. E o que dizer da entrada do Vasco no gramado, tendo à frente aquele cabeludo? Via no olhar de cada vascaíno aquele brilho que, vez por outra, cintilava os olhos do meu pai. Via as bandeiras ostentando a Cruz de Malta, ouvia os gritos da torcida: "Dinamite!", "Dinamite!"... E vi também a vitória do Vasco sobre o Flamengo por 3 x 0, com 2 gols do Roberto e um do Zanata. Vi um dos maiores times que o Vasco já teve e que seria campeão naquele ano. 

Se o meu pai, ao me levar ao Maracanã naquele dia, pretendia assegurar de vez a minha condição de Vascaíno, ele foi perfeito. Hoje, entendo o comportamento e confesso que farei o mesmo quando tiver meus próprios filhos. Até porque eles não terão a figura do avô para contar a História do mais importante Clube de Futebol deste país. História essa que é pouco explorada e divulgada pela imprensa. Todo vascaíno com um pouco de discernimento percebe uma indisfarçável má vontade com relação ao Vasco (má vontade?). Senão, vejamos a manchete de um jornal carioca após a primeira partida da final da libertadores em 98: "Só um milagre tira o título do Vasco". "Milagre"? Sendo a manchete de um jornal brasileiro e, principalmente, carioca, o correto não seria dizer "desastre"? Além disso, quando o mais dinâmico e apaixonado (isso às vezes atrapalha) dirigente do futebol brasileiro, Eurico Miranda, recorre à justiça desportiva para ter os direitos do Vasco respeitados, a imprensa rotula tudo como uma manobra ardilosa para obter vantagens impróprias ou como uma tentativa de melar o campeonato. "Futebol se ganha no campo", dizem eles. No entanto, quando, por exemplo, o nosso Botafogo entra na justiça para ganhar os pontos da partida contra o São Paulo, o pleito é considerado legítimo, como de fato é, e como o foram os pleitos do Vasco também. Por falar em São Paulo, imaginem o carnaval que seria feito pela imprensa se o Sandro Hiroshi fosse jogador do Vasco. Ou o Vasco se recusasse a disputar a final de um Brasileiro como fez o Flamengo em 87? Alguém acredita que a imprensa carioca proclamaria o Vasco campeão, como fez com o Flamengo? 

Bem, o que eu quero na verdade é ressaltar para a nossa imensa nação vascaína que as conquistas do nosso Clube, tanto no campo esportivo como no social, só serão mantidas por nós, vascaínos com olhar cintilante, como meu pai, apaixonados como o Eurico e tantos outros que eu tenho encontrado pessoalmente ou pela internet. Devemos preservar o orgulho de quem não carrega qualquer mancha de racismo ou de discriminação social. Como bem diz o Eurico, o Vasco é o único lugar no Brasil onde o rico engravatado e o pobre, preto ou branco, com os pés descalços, entram em condições de igualdade. O Vasco é um clube que cresce com a força do povo e contra a sanha dos poderosos.

[Fonte: Revista do Vasco. ANO 1, Nº5, maio de 2000, p.50]

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